Essa semana, dia 8 de março, é comemorado o Dia Internacional da Mulher, e a Lyra trouxe algumas de nossas colaboradoras que atuam na área de tecnologia, Luzia Trevisani, Luana Marques, Beatriz Caires, Naira Pinheiro e Cibele Ferreira para compartilharem mais sobre suas jornadas profissionais como mulheres em uma área tomada por homens. 

Luzia lidera o time de suprimentos com 5 homens e 1 mulher, Beatriz  é a responsável pela segurança do grupo Lyra no Brasil, Naira é Product Owner da Lyra M2M com todos os seus colegas de profissão sendo homens, o mesmo com Luana, Product Owner da Veripag, plataforma para adquirentes. E por fim, Cibele, coordenadora do suporte 24×7, lidera uma equipe formada apenas por homens.  

Veja a entrevista completa abaixo: 

Isabella: Vocês consideram que o Brasil é um país machista? 

  • Luzia: Acho que todos os países têm um índice alto de machismo. Melhorou muito, ao meu ver, se comparado com antigamente, mas o índice de machismo permanece muito alto! Se a gente for pensar no ambiente de trabalho, o machismo ainda está presente na questão de remuneração (NDR -22% segundo IBGE 2023 e mesmo -34% em posições de liderança), no reconhecimento, na falta de acesso a cargos gerenciais e no nosso dia a dia. 

Isabella: Um preconceito dos homens é que mulheres ganham menos porque não entram nas brigas de poder, não gritam mais alto na hora de defender seu budget etc. O que você responde a isto?

  • Luzia: Por que que a mulher não vai gritar? Porque ela já ta acostumada que talvez ela não tenha voz mesmo que ela grite. Se gritar vão falar que somos loucas, que estamos de tpm, é assim que os homens tratam. Então às vezes as mulheres ficam mais na defensiva exatamente para evitar de serem julgadas.

Isabella: E como foi dentro da casa de vocês, vocês receberam apoio da família em relação aos estudos e trabalho?

  • Naira:  Eu era incentivada a não estudar e trabalhar, meus pais queriam que eu casasse e tivesse filhos, essa era a prioridade. Mas, como eu sempre fui muito curiosa, eu vi que tinha aberto vagas de jovem aprendiz no Correio e me inscrevi, com 14 anos. 
  • Cibele: Eu cresci em um lar bem machista, minha mãe não trabalhava porque meu pai não achava que era a função da mulher, e por consequência eu e minhas irmãs também não eramos incentivadas a trabalhar. Mas, meu pai veio a falecer cedo e eu comecei a passar mais tempo com os meus avós, que tinham uma visão bem mais equilibrada entre homens e mulheres, e lá eu comecei a ser incentivada a estudar e trabalhar.
  • Beatriz: Como minha mãe viveu essa experiência de sair do trabalho para cuidar do lar, desde pequena ela falava “quando você crescer não siga meu exemplo, você vai ter uma profissão e aí sim procurar alguém”, meu pai também sempre me incentivou a focar na minha carreira. 
  • Luana: Meu pai era muito machista, mas minha mãe, que era costureira, sempre tomou a frente e sustentou a casa. Então ela me incentivou a estudar e trabalhar para não precisar depender de ninguém. 

Isabella: Num país onde a educação de qualidade é inacessível para muitos, como vocês fizeram para estudar sem o incentivo dos pais?

  • Luzia: Eu via a minha tia e eu queria ser como ela, ela foi atrás de estudo, trabalhava e era independente. Eu a admirava e queria ser igual a ela. Como minha meta era essa, eu fui à luta e trabalhei para pagar meus estudos.
  • Luana: Eu fui a primeira da família inteira a entrar na faculdade, eu tinha que trabalhar para pagar, usava quase todo meu salário e com o que sobrava eu pagava o transporte. Mas minha mãe me poupou de várias tarefas na casa, para que eu tenha mais condição de estudar.
  • Naira: Quando eu questionei meus pais falando que queria fazer faculdade de TI, eles falaram que não iriam pagar, e foi então que eu me esforcei para passar pelo enem e eles deixaram. Lembro que a sala só tinha eu e mais uma menina, e ela não ficou nem 3 meses. 

Isabella: Como vocês se interessaram por uma área que tem poucas mulheres?

  • Beatriz: Depois de tentar várias áreas, eu consegui uma oportunidade de estágio na área de segurança, lá eu tive duas chefes mulheres, e eu achei incrível ver o dia a dia delas e como elas se impunham, então acabei escolhendo seguir nessa carreira.

Isabella: Na carreira, vocês entenderam logo de cara que teriam que trabalhar mais que um homem?

  • Luana: Normalmente nós temos que estudar muito mais, né? Porque se não, como eu vou passar segurança do que eu estou falando para a minha equipe.
  • Beatriz: E às vezes quando a gente sabe as coisas é só nossa obrigação, se um homem chega e fala a mesma coisa que a gente falou, ele recebe parabéns.
  • Luzia: Se um homem não tem tanto conhecimento, dificilmente ele vai ser julgado, já uma mulher, se não tem o conhecimento vão falar, “isso que dá colocar mulher para gerenciar equipe”, então a gente precisa estar sempre se destacando. 

Isabella: Vocês podem compartilhar experiências de machismo pelas quais passaram? Para o homem entender…

  • Beatriz: Já tiveram vezes em que eu tive que tratar com algum cliente, repetir várias vezes a mesma coisa e ele não me entender. E quando eu chamei um homem para explicar exatamente a mesma coisa ele entendeu.   
  • Cibele: Quando eu era mais nova, trabalhei na área de administração e era a única mulher, lá sofri assédio, me impus sobre a situação e acabei sendo suspensa.

Isabella: Vocês já precisaram mudar alguma coisa para tentar passar ilesa pelo preconceito?

Luzia: Sim, já troquei de roupa pensando em ter mais respeito e eu percebi que eu obtive mudanças por conta disso, por isso, hoje, eu evito usar roupas curtas e decotadas. Até hoje, em 2024 eu preciso pensar na minha roupa para ser escutada.

  • Cibele: Com certeza, nós temos que tomar cuidado o tempo todo para ser menos simpáticas, porque se nós somos muito simpáticas corremos o risco de sermos mal interpretadas por alguém.
  • Naira: Eu também precisei ser menos espontânea, mais séria. No ambiente de trabalho que tem bastante homem, você não pode ser muito simpática, não pode dar muita risada, tem que ser séria. 
  • Bia: Quando eu fui promovida, eu tive que começar a vir de roupa social, porque eu vi que as pessoas não estavam me levando a sério sem esse artifício. Eu não venho mais de tenis e de calça jeans. Tenho 24 anos e trato com homens de 40, então tenho que manter uma certa postura.  

Isabella: Se vocês pudessem voltar no tempo, qual dica vocês dariam para vocês de 15 anos? 

  • Luzia: Eu diria estude muito, o máximo que você puder, porque só assim você vai conseguir algum espaço nesse mundo. Com estudo já é difícil, imagina sem!
  • Beatriz: Eu falaria para dar mais as caras, não ter vergonha de falar as coisas e confiar no meu potencial. 
  • Naira: Para não ter medo de se impor, dar a minha opinião e não ter medo de falar não!
  • Luana: Falaria para estudar e para ir logo para a área de tecnologia rs. 
  • Cibele: Eu diria para ser mais pulso firme, acreditar mais na Cibele e ser mais confiante.